2006-04-03
Intervistado: Rui Sousa
Fonte ou autor: Metalicidio.com
Crossfaith - \"a música é a nossa cruz\"
Local: Café Royal
Hora: 21:03 pm
Entrevistador:Rui Melo
Explica-nos o conceito em torno do nome da banda?
Na altura em que formamos a banda ainda não tinhamos nome para ela. Andamos às voltas à procura de um nome e, por acaso, tenho um som no meu teclado que se chama \"Crossfades#. Achamos piada mas queriamos alterá-lo. Então pensamos em Crossfaith, ou seja, a cruz do destino, em que a nossa cruz é fazer música! Andamos meses à procura de um nome, mas num mero ensaio ficou tudo decidido.
Crossfaith nasceu quando?
A banda oficialmente surgiu em Setembro de 2004. Antes tinhamos uma banda de covers, os Sanctus, em que participavam membros que actualmente estão em Crossfaith: Eu, o Chico, e o Rui. Entretanto eu saí porque aquele projecto não tinha pernas para andar, o que se acabou por confirmar. Mais tarde falei com o Chico para criarmos um novo projecto e assim foi! Aproveitamos o Rui para a bateria e nasceram os Crossfaith.
Como se escreve efectivamente o nome da banda, Cross Faith ou Crossfaith? Pergunto isso porque já vi escrito várias vezes das duas maneiras...
Pois... eu já vi também mal escrito várias vezes... por exemplo no site Contratempo.com e até no Metalicidio.com! Nós preferimos ver o nome “tudo junto”, ou seja, Crossfaith.
Recentemente tiveram uma alteração no line-up. O que se passou?
Epá... o nosso antigo baixista (Rui Moreira), por “motivos profissionais”, quase não ensaiava conosco. Até os próprios concertos eram suportados pelo André Gouveia dos In Peccatum. Por isso tivemos que tomar uma decisão. Falamos com ele e tudo resolveu-se amigavelmente.
... foi convidado a sair então?
Epá... tivemos que tomar uma decisão porque não podemos dar concertos sem um baixista. E ele próprio já tinha consciência que mais dia menos dia isso ia acontecer. O Rui saiu em Janeiro e em Março entra o actual baixista, o Ricardo Santos. Mas antes disso passaram pela banda dois baixistas: o André Gouveia que nos ia ajudando sempre, até gravou 3 temas da nossa DemoCD, e o Miguel Bernardo (ex- Falls of Despair) foi convidado para integrar a banda mas acabou por não ficar. Estamos muito satisfeitos com o Ricardo Santos porque ele está lá há um mês e já sabe todos os temas!
No que toca a concertos que balanço fazem os Crossfaith do ano de 2005?
O ano de 2005 foi mesmo muito bom para nós! Tivemos excelentes experiências. O nosso 1º concerto foi em Janeiro no aniversário do Chico em casa dele, ou seja, só para amigos. O primeiro concerto para o público foi a 13 de Maio numa festa do Espirito Santo nas Capelas, e não me esqueço dessa data porque o pai do Rui Moreira faleceu nesse dia... tivemos que tocamos sem baixista. Depois regressamos às Capelas mas desta vez com Blasph3my no qual houve bastanta aderência! Logo de seguida veio o Angra Rock que acabou por ser uma experiência espectacular, apesar de não termos sido seleccionados para a final. Nesse festival tivemos muitos azares... um deles foi tocarmos com um baixista sem acção no braço...! No dia antes de irmos para a Terceira o Ruizaca (Rui Moreira) acordou sem conseguir mexer o braço... isso na Quinta-Feira. Neste dia tinhamos ensaio e malas para fazer. Em vez disso passamos foi a noite no Hospital a ver se havia cura para o problema dele! Quando chegamos à Terceira na Sexta-Feira o Ruizaca teve a triste ideia de ir procurar curandeiros para Angra do Heroísmo! (risos) Encontramos dois curandeiros, tipo Mestre Ginquina, que pregou uma “mexa” no braço do Ruizaca e ele só gritava “ai ai ai... partiste-me o braço!” (risos). Para além disso o Ruizaca já não ensaiava conosco à quase 3 semanas... Mas lá demos o concerto. Ele ia só marcando o ritmo. Fora isso foi espectacular. Ainda recebemos montes de telefonemas de pessoal a perguntar pela banda. Quando chegamos a São Miguel tivemos logo um concerto no Campo S. Francisco organizado pela ANIMA em que foi o André Gouveia a tocar porque o Ruizaca estava com o braço ligado (risos) e pouco tempo depois foi a vez do Capelas Musifest que também foi muito bom. Em Setembro foi a vez da Maratona de Rock no Coliseu Micaelense que também foi muito fixe. E em 2005 foi basicamente isso!
O que falhou na apuração para o XI Festival de Música Moderna de Corroios 2006?
Em Janeiro inscrevemo-nos do Festival e fomos admitidos. Logo ai já ficamos contentes porque a organização recebeu mais de 500 maquetas e só foram escolhidas 200. Os critérios de selecção são rigorosos como podes imaginar e as bandas que foram apuradas a partir dai são mais da onda pop-comercial. E como somos uma banda de rock com influências de metal não nos apuraram. Tinha lá muitas bandas a praticar um estilo como a nossa, com CD’s já editados... tipo os Hiffen.... e não foram apuradas. Bandas com CD’s editados na Nemezis e não foram apuradas. Era um Festival mais direccionado para outro estilo de bandas.
Foste um dos principais intervenientes na organização do ANIMA Rock, festival no qual Crossfaith faz parte do leque de bandas da primeira noite. Sentiste muita dificuldade em organizá-lo?
Esse evento já vinha em mente desde o ano passado. Lembrei-me que em 2006 os Hiffen faziam 10 anos e então decidi esperar mais um pouco. Como os Hiffen não tinham tempo para organizar um evento desses e como também não queria deixar de aproveitar essa oportunidade, até porque se trata de uma data histórica e penso que deve ser comemorada. Sozinho elaborei um projecto com as bandas que queria para o cartaz e apresentei-o ao José Andrade do Coliseu Micaelense. Disse-me que em principio só para 30 de Abril mas que ia analisar. Mais tarde ele telefona-me a perguntar se queria fazer uma parceria com o Nuno Costa da SoundZone. O Nuno já tinha ido pedir apoio para a festa do 3º aniversário da SoundZone. Mas quem festeja o 3º aniversário festeja o 4º.. o 5º... e os Hiffen iam festejar o 10º aniversário, é uma data histórica! Então eles pensaram em juntar-nos e assim compensava os custos que a ANIMA e o Coliseu Micaelense iam ter. Tanto eu e o Nuno concordamos com a decisão deles e ficou reservado para mim o dia 21 e para o Nuno o dia 22. O Coliseu ficou responsável por todas as despesas de recinto: seguranças, limpeza, som, luzes, técnicos, bilhetes. Por outro lado a ANIMA Cultura responsabilizou-se pela emissão de 5 mil cartazes, 3 outdoors e pelas passagens dos músicos: 7 em Urban Tales e 7 em The Temple.
... saiu-vos a sorte grande!
Foi a melhor coisa que podia acontecer (risos). Nós próprios não temos meios para fazer um evento dessa envergadura. A nossa única responsabilidade é: cachet da banda (caso elas peçam) e também estadia e alimentação. Sozinho consegui arranjar apoios para mim, mas também ajudei o Nuno porque ele tava “à rasca” e claro que não queria que o festival falhasse por causa disso. Consegui arranjar apoios também para o transporte e para fazer t-shirts do festival – para mais tarde recordar. No dia 8 desde mês o festival vai ser apresentado à comunicação social mas é a ANIMA é que está a tratar disso. Ah... esqueci-me de mencionar ai uma coisa: fomos recusados de apoios por algumas entidades governamentais, uma delas a secretaria da juventude. Assim que esta soube que iamos ser apoiados pela Câmara de PDL disse logo um “NÃO!” ao apoio. Talvez por divergências políticas... Fizemos de tudo, insistimos mas em vão... recusaram-nos simplesmente. Quando formos apresentar o festival à comunicação social vamos dizer isso de “boca cheia” porque é assim: vão para a televisão dizer que querem apoiar os jovens, e nós vamos lá só pedir apoio para a estadia uma vez que a Secretaria detem 51% da Pousada da Juventude e recusaram... Então para que é que serve essa Secretaria? Para onde vão as verbas que o Governo dá? Só se fica dentro da algibeira deles (risos).
Prespectivas para esse evento?
Epá... acho que no 1º dia vai haver bastante aderência. No inicio tinha várias bandas em mente para trazer: Hanger, Ramp, Oratory, Urban Tales e In Solitude. Hanger e In Solitude tou a pensar trazer-las cá para o Verão... possivelmente para o Giestas Rock, por isso não fazia sentido virem agora. Ramp eram 15 pessoas... não ia dar para arranjar apoios! Por isso decidi trazer os Urban Tales. Tocam um metal alternativo e acho que o pessoal vai gostar. Em relação à 2º noite não sei que esperar porque já ouvi muitos dizeram “ah... The Temple vai ter muito mais aderência” outros dizem “ah... The Temple é muito pesado... quem quer ouvir metal de boa qualidade vai no dia antes”. Pá isso é muito relativo... Como é uma banda nova acho que o pessoal vai lá para conhecer e acho que vão gostar. Quem gosta de metal vai gostar de certeza! Ah... já me esquecia de dizer: esse festival vai ser gravado para DVD e fica a cargo da ETIC – escola de comunicação e multimédia em Lisboa.
Crossfaith entrou recentemente para estudio. Como estão a decorrer as gravações?
Estamos a gravar 4 temas na NeburRecords com o Ruben Moniz. Já temos um tema concluído (Bleed For Me) que vai passar nas rádios e vai integrar também o CD Metalicidio. Os outros três temas já estão em fase de acabamento.
...e estão a gostar do trabalho do Ruben?
Epá... o Ruben não tem um “estudio por ir além”. Ouvimos gravações feitas em estudios em Lisboa e não tem nada a haver... Mas para as condições que o Ruben tem está a ficar muito boa a gravação.
... já que és membro em Hiffen e Crossfaith, preferes a qualidade sonora no CD de Hiffen ou na DemoCD dos Crossfaith?
Claro que é a qualidade sonora do CD de Hiffen! Mas em principio esse ano os Crossfaith vão gravar na PFLstudios – responsável pela gravação do CD dos Hiffen. Tamos só há espera de receber o dinheiro. O orçamento do CD de Hiffen foi de 4 mil euros! Arranjar esse dinheiro não é de um momento para o outro... Mas agora estamos a gravar no NeburRecords só para termos algo para promover... dar ao pessoal, passar nas rádios, colocar no site.
... o site foi todo remodelado.
Sim! Quem foi responsável pelo desing foi o Tito Bettencourt. E todas as actualizações vao passar pela mão dele. Nós vamos dando o material e ele trata do resto. O site só tem uma semana e já conta com 88 visitas, o que é bastante positivo!
Uma pergunta delicada: como desempenhas funções em Crossfaith e Hiffen em qual das bandas atribuis mais empenho? Ou é o mesmo para as duas...?
Na altura em que tocava em Septic Miracle tinha que me desdobrar em 3... tinha de arranjar maneira de ensaiar nas 3 bandas, o que era muito complicado. Não conseguia estar a 100% para nenhuma... Como saí de Septic Miracle consigo agora estar a 100% para Crossfaith e Hiffen.
... mas imagina faziam-te um ultimato e tinhas de escolher uma delas, qual escolherias?
Epá... escolhia as duas! (risos) É como se ficasses sem um braço ou uma perna... E para além disso já não se pode estar na música para brincar, temos muito dinheiro investido em ambas as bandas.
Achas que o Metalicidio.com tem sido um bom veículo de promoção, especialmente no teu caso em particular, uma vez que tens um currículo alargado de participações em bandas regionais?
Se não fosse o Metalicidio.com o Metal morria aqui em São Miguel. Ainda sou do tempo das bandas de black e death metal da altura e se não fosse o Metalicidio.com esses rapazes mais novos nunca chegavam a conhecê-las. Até para nós elas iam acabar por cair no esquecimento. Mas o Metalicidio consegui “trazê-las de volta”. Acho que vocês devem continuar com esse projecto porque estão a ajudar em muito as bandas regionais. Um gajo do continente ou doutro planeta qualquer... ahhhh... país! (risos!) Planeta agora...(risos) imagina o pessoal lá em Marte a ir ao Metalicidio saber as novidades: 1º Aniversário no Bar PDL! “epá.. ouvi dizer que há ai bilhetes para o super bock super rock... vocês desenrascam ai alguns ou como é? (risos). Mas continuando, o pessoal ai de fora consegue através do Metalicidio.com saber o panorâma musical regional. Os Hiffen receberam um mail de um gajo da China para veres... disse que nos tinha visto num site. Agora não sei qual foi, mas talvez tenha sido o Metalicidio! Primeiro que percebessemos o que ele queria... (risos). Só percebemos uma palavra: CD. Como não percebemos nada de Chinês enviamos um CD + T-shirt nosso à cobraça naquela... Mas o que é facto é que ele recebeu e já tenho o dinheiro! O Metalicidio ajuda muito na promoção das bandas, se bem que ainda faltam lá alguma bandas antigas...!