2003-02-01
Intervistado: Ricardo Cabral
Fonte ou autor: SounD(/)ZonE
Schism - Dor Etérea
Formados em 2002, os então Dark Project acabam por dar origem aos Schism. Após algumas mexidas na sua formação a banda estabiliza em Julho de 2003 e começa a mostrar que é um dos vértices do metal gótico açoriano. Munidos de uma harmonia muito interessante entre peso, melodia e sencibilidade, esta jovem banda micaelense justifica assim a conversa que tivemos com o baixista e fundador Ricardo Cabral
Como membro fundador da banda pedia-te para contares um pouco da história da formação dos Schism. Como é que tudo surgiu?
O que hoje são os Schism começou há dois anos, algures no mês de Janeiro, quando um grupo de amigos que se juntou para aprender a tocar resolveu começar a elaborar algo de seu. Surgiu assim o objectivo de, com temas originais, demonstrar as nossas ideias e maneira de estar na vida. Desta formação inicial, no presente, apenas figuro eu e o Contente.
A banda já operou várias mudanças de line-up ao longo do seu percurso. A que se deveu essas alterações? Consideras então este o line-up ideal?
Tudo muda, e a música, bem como a maneira de a conceber não é excepção. Todos crescemos ao longo do processo, alguns deixaram de sentir como no início... As mudanças deveram-se também à necessidade constante de uma sonoridade própria, o que levou à procura de algumas pessoas para se juntaram a nós. Nada disto foi pensado, simplesmente aconteceu. De facto, até aconteceram algumas peripécias nestas mudanças, como por exemplo a descoberta da Graça (risos). De momento não sentimos especial necessidade de que haja uma mudança de formação, mas temos a mente aberta a novas possibilidades.
Falando agora das vossas experiências ao vivo, vocês já participaram em festivais importantes a nível local como o Garage Hell e o Rock In Ribeira Seca? Como achas que tem decorrido essas experiências? O público tem reagido bem, a própria banda sente-se satisfeita com o seu desempenho...?
Posso desde já dizer que esses eventos contribuíram bastante para o nosso crescimento como músicos; o palco é uma grande escola, onde se aprende quer na preparação do evento quer no espectáculo em si porque não estamos só a tocar para nós ou amigos, mas sim a fazer uma mostra a pessoas que não conhecemos de lado nenhum e que podem gostar ou não… Temos tido sorte com a maior parte dos nossos concertos, o público tem reagido de uma maneira positiva, o que é revigorante visto que, quando estamos em cima de um palco, damos o nosso melhor. Sentimo-nos satisfeitos mas, como é óbvio, há sempre lugar para aprender e fazer melhor.
Fiquei a saber há pouco tempo que vocês se preparam para gravar alguns temas no verão. Será algo caseiro ou algo já mais a sério? Conta-nos quais são os vossos planos...
Essa é, com efeito, uma das hipóteses que está a ser estudada, visto que queríamos deixar uma marca, um registo com o qual possamos contribuir para um mundo que nos tem ensinado bastante. Estamos a pensar gravar uma maqueta já com um quê de sério, mas ainda não nos sentamos propriamente a delinear detalhes. Enquanto isso não acontece, queremos obviamente continuar a dar a conhecer a nossa música.
Até então, como é que banda vai preencher o seu tempo? Alguma surpresa, concertos...?
Neste momento, aproveitamos o Inverno para nos recolher-mos à sala de ensaios e estamos a explorar as novas ideias que vão surgindo de cada um dos membros, o que provavelmente vai resultar num conjunto de novos temas. Queremos fazer tudo com calma, aperfeiçoar pormenores e deixar a música vir até nós.
Notei nas expressões do vosso site bastante confiança em que vocês se vão afirmar no nosso panorama underground. Achei isso bastante positivo, é sinal de que a vossa convicção é grande! Como te sentes em relação ao futuro? O que é que achas que a banda terá de fazer para se afirmar efectivamente?
Há que ser optimista! A nossa afirmação passa, essencialmente, por darmos o melhor de nós...
Como deves ter noção, o vosso estilo está um pouco desenraizado do público açoriano. Nos últimos tempos as tendências são um pouco diferentes... Como vês o estado actual da música cá?
Um músico não deve simplesmente seguir as novas tendências, mas sim escrever algo que goste e com que se identifique. Somos todos diferentes e cada indivíduo tem um modo pessoal de se expressar, por isso penso que é essencial respeitar-se a diversidade e a diferença e concentrarmo-nos no essencial, que é a música em si. Fala-se muito na questão da insularidade e sei o quanto é importante passarmos a nossa música (bem como a nossa cultura) além-mar, mas não nos devíamos esquecer que o que nos separa do resto do mundo também nos devia unir, até porque o povo açoriano convive com a música desde sempre.
Há algum projecto cá que vos desperte especial respeito?
Temos respeito por todos os músicos, porque sabemos que algo deste carisma implica dar algo de si. Existem sempre projectos interessantes, que dão vida ao panorama musical regional, e aos quais se devem dar a maior divulgação possível. Entre muitos, referimos o caso de Morbid Death, um dos “monstros” do metal regional, título conseguido com muito esforço e dedicação, dos Sacred Tears, uma banda jovem que tem vindo a dinamizar a região com vários eventos musicais (aproveito aqui a ocasião para agradecer as oportunidades de mostrarmos o nosso trabalho que nos proporcionaram) e os Tolerance Zero, que se preparam para lançar o seu primeiro trabalho discográfico. Desejamos muita sorte a todos!
E como vês o estado actual da música? A indústria está cada vez mais saturada, o número de lançamentos por mês é cada vez maior, os preços dos discos são elevados... Resumindo, as pessoas nem têm tempo para dar atenção a tantas bandas nem têm dinheiro para comprar os discos todos perdendo-se por vezes projectos fabulosos... Por onde achas que passa a solução deste problema?
Acho que todos ficávamos a ganhar se os monopólios da parte das indústrias discográficas deixassem de ser tão possessivos, porque tanto as indústrias continuavam a ganhar mais porque se ouvia mais e a “pirataria” tinha menos efeito como o consumidor final, apreciador de música, tinha acesso a uma maior diversidade de trabalhos que primam pela qualidade e nem sempre têm o feedback que mereciam.
A internet apesar de trazer benefícios para a divulgação das bandas conseguiu provocar uma recessão na indústria musical. A situação começa a tornar-se um bocado grave... Começo já a ver alguns músicos a desistirem das suas carreiras porque os seus discos não vendem... Como vês o papel da internet no mundo da música?
É uma realidade alguns músicos terem deixado a sua carreira por causa da Internet, mas não nos esqueçamos também dos que se deram a conhecer por este mesmo meio. Existem dois lados da mesma moeda, o que me sugere que o papel da Internet esteja mal visto por alguns, quer neste, como em tantos outros aspectos. Com isto quero dizer que podem e devem usar-se os benefícios da globalidade e da facilidade de comunicação com as massas que este meio tem em prol da divulgação da música. Não nos esqueçamos que desde sempre se copiaram discos, cassetes, Cds…
E na nossa região qual é que achas que continua a ser o grande entrave para as bandas?
As bandas que estão a postos para gravar o seu primeiro registo não têm dinheiro para suportar uma gravação de uma maqueta ao “mais alto nível” (se bem que existem apoios específicos para estes fins), pelo que quem possui conhecimentos técnicos de som e acústica devia apostar mais nesse mercado. Penso que há uma falta de comunicação entre as bandas, porque se nota uma falta de informação que, se fosse trocada mais fluidamente, só teríamos mais a ganhar, como por exemplo a atribuição de apoios e a existência de concursos de promoção de bandas de garagem que vão aparecendo aqui e ali.
Por aquilo que já vos ouvi dizer, a banda para o ano vai se separar uma vez que a maior parte dos seus elementos vai estudar para outro local. O que é que vai acontecer aos Schism depois disso?
Vamos fazer todos os esforços para continuar com este projecto mas, quanto a isso, só o futuro o dirá ao certo. Uma coisa é garantida, vamos todos continuar ligados à música de algum modo!
E para terminar, alguma mensagem em especial?
Gostaríamos de fazer um convite para que estejam atentos, no próximo mês de Março, ao programa “A Última Fronteira” na Antena 1, visto que vão passar concertos gravados ao vivo no estúdio da RDP de algumas bandas de garagem regionais. Nunca é demais agradecer a todos os que nos têm apoiado ao longo destes dois anos musicais.
Entrevista por Nuno Costa (Soundzone)