2001-05-19
Intervistado: Mário Cabral
Fonte ou autor: World Music

Classic Rage - Direito Reservado ao Sucesso

Terminou, finalmente, a espera por um dos lançamentos mais importantes do universo musical regional e, porque não, nacional. E pode dizer-se que valeu mesmo a pena esperar. O segundo disco dos Classic Rage, intitulado «All Rights Reserved» reúne todas as condições para ser um dos trabalhos mais importantes da temporada musical deste ano. O facto de ter sido gravado na Alemanha, ainda por cima com Tommy Newton, um dos mais importantes e requisitados produtores da actualidade internacional, só veio engrandecer um trabalho que, por si só, já é possuidor de uma qualidade deveras invejável. Como se isso não bastasse, o trabalho conta com a participação de Angel, dos consagrados Sanvoisen. A partir de hoje, temos ainda mais razões para consumir música feita por artistas açorianos. Mário Cabral, teclista da banda, falou com a Açores Magazine, sobre a novidade que está, a partir de hoje, à venda nos Açores.



Açores Magazine: A que se deveu o atraso na edição deste disco?

Mário Cabral: De facto, foi um atraso um tanto ou quanto longo, se tivermos em conta que o trabalho foi gravado em finais de 1999. Note-se que, quando acabamos de gravar, não tínhamos qualquer editora para lançar o disco. Aliás, quando o gravamos , tínhamos no horizonte, um olhar além fronteiras, até porque este era o nosso último trunfo. O Tommy, aconselhou-nos a esperar e mostrou-se até disponível para negociar o disco com algumas editoras alemãs. Felizmente, foram várias as editoras que se mostraram interessadas no trabalho. Infelizmente, quase todas, obrigavam-nos a profissionalizar a banda, coisa que não nos interessava, porque tínhamos que passar seis meses em digressão. Infelizmente, tivemos que abdicar disso, porque todos temos a nossa vida pessoal e profissional nos Açores. A Point Music ofereceu-nos um contrato que é excelente, tendo em conta que ganhamos, praticamente, o dobro do que ganham as outras bandas em percentagens. No que respeita a editoras nacionais, e apesar de termos boas relações com a Música Alternativa, optamos por assinar com a Recital. Tivemos outras sugestões, mas não aceitamos porque isso implicava a cedência dos direitos de autor. Finalmente, o último atraso deveu-se ao trabalho de concepção da capa. Nós podíamos ter lançado o disco mais cedo, com uma capa diferente da que vai sair na Europa, mas decidimos esperar mais um pouco e assim o disco é igual ao que vai para o mercado europeu a 19 de Março, segundo informação da Point Music.

A.M.: Diferenças entre o novo álbum e o anterior?

M. C.: Em primeiro lugar, é um disco mais homogéneo, uma vez que teve mais diversidade em termos de composição, por parte de todos os elementos da banda. Em segundo lugar, a estratégia que montamos deu certo, em termos de estrutura mais simples e directa na composição dos temas. Creio que, neste disco, as coisas resultaram de uma melhor forma.

A.M.: Diferenças, agora, entre o Brian Martin e o Tommy Newton?

M.C.: Eu optava, primeiro, por falar das semelhanças, ou seja, do profissionalismo com que ambos fazem as coisas, apesar de serem diferentes nas suas atitudes. É preciso ver que as condições que oferecemos ao Brian, no primeiro disco, não foram as melhores. Com o Tommy, estivemos no seu estúdio, que é simplesmente, um dos melhores a nível europeu. Temos que reconhecer também que o Tommy está muito mais virado para o nosso som. O facto de ser um músico, teve um peso importante, sendo esta, também, uma das diferenças entre ambos os produtores.

A.M.: Expectativas para ambos os mercados; português e europeu?

M.C.: Não querendo ser pessimista, não acho que aconteçam grandes alterações em relação ao álbum anterior. É preciso ver que o mercado português não é muito grande para este estilo de música, apesar de termos aspectos importantes que podem marcar a diferença. Em relação à Europa, temos expectativas maiores, até porque o futuro da banda depende disso, ou seja, se as vendas atingirem os valores que a editora espera, isso garante não só a continuidade da banda, como de outro lançamento. Caso contrário, da nossa parte, já teremos atingido o limite que nos é exigido. É preciso ver que este disco teve um custo elevadíssimo, só possível de realizar com os apoios de diversos patrocinadores, a quem desde já agradecemos muito a confiança depositada. Não estamos dispostos a percorrer esse percurso novamente, até porque é extremamente cansativo.

A.M.: A edição deste disco foi de quantas cópias e, já agora, o porquê do formato Digi-Pack?

M.C.: Esta edição foi de mil cópias mas haverá outra se houver justificação para isso. No que concerne ao formato, sabemos que, hoje em dia, é muito fácil fazer uma cópia de CD. Por isso mesmo e, apesar de ser mais caro, resolvemos fazer um Digi-Pack, porque reduz a hipótese de se fazerem cópias. Esta é, aliás, uma estratégia que está a ser seguida por muitas bandas importantes da actualidade.

A.M.: Vocês tiveram que criar o vosso próprio selo para editar este disco. Queres comentar essa situação?

M.C.: Uma vez que não queríamos prescindir dos direitos de autor, a solução foi registá-los em nome próprio, ou seja, criar um selo exclusivo. A ideia inicial era de registar os temas em nome de todos os membros da banda, mas chegamos à conclusão de que era excessivamente caro. Depois de conversarmos, resolvemos registar os temas em meu nome.

A.M.: O título «All Rights Reserved» acaba por espelhar o caminho que a banda percorreu e que, diga-se, foi algo atribulado, tendo em conta a grandiosidade do projecto. Concordas?

M.C.: Sim, é verdade! No início até pensamos em usar «Disconected», mas os Fates Warning tinham um tema com esse nome e mudamos de opinião. Curiosamente, quando recebemos o \"master\" da gravação, vinha escrito «All Rights Reserved» e isso chamou-nos à atenção, ao ponto de optarmos por esse título. Como dizes, e bem, este título espelha bem todo o nosso percurso até esta última etapa.

A.M.: Apesar de já fazer parte do passado, como é que viste a saída do Nelson Neto, um dos músicos que formou a banda?

M.C.: O Nelson foi e sempre será um grande amigo. É preciso ver que foi ele que iniciou todo o processo que nos levou até à Alemanha. Este disco foi um dos sonhos dele e acabou por concretizar-se. É óbvio que compreendemos e respeitamos a opção dele ao sair da banda.

A.M.: Foi difícil arranjar um baterista à altura dos vossos objectivos?

M.C.: Sim, foi algo difícil! Fizemos alguns testes a vários músicos mas acabamos por optar pelo Helder Machado. De salientar que não foi difícil perceber que o Helder tinha um grande potencial, daí que optássemos por ele.

A.M.: O porquê da inclusão de um segundo guitarrista, neste caso, o Marco Medeiros?

M.C.: Quando começamos a ensaiar os temas, reparamos que a maior parte dos temas tinham duas guitarras, ou seja, a sonoridade era dobrada. Numa primeira fase, o Marco esteve na banda como músico convidado, mas depois achamos que tinha capacidade para entrar a tempo inteiro...

A.M.: A saída do Paulo Melo, ainda que temporária, acaba por prejudicar a banda. Correcto?

M.C.: Sim, é óbvio que vai prejudicar a banda em termos de composição dos temas e não só. O Paulo é um dos elementos \"chave\" desta banda, e isso terá repercussões menos positivas. De qualquer forma, ele esteve cá para apresentar o disco e sempre que se justificar, ele virá aos Açores.

A.M.: Pensam arranjar um baixista convidado para o substituir nos concertos ao vivo?

M.C.: Não é fácil arranjar um baixista que toque as linhas de baixo do Paulo, de qualquer forma, se for necessário actuar no continente, recrutaremos um baixista lá, até porque temos algumas indicações nesse sentido. Se bem que o ideal será mesmo o Paulo Melo, porque é membro da banda e porque é único...que isso fique bem claro!

A.M.: Ao contrário do que se esperava, o vosso disco não estará à venda em todas as lojas de S. Miguel. Porquê?

M.C.: Antes de mais, quantidade não é sinónimo de qualidade e, sinceramente, ter o disco simplesmente na prateleira não nos interessa nem se identifica com a estratégia que montamos. Preferimos dar o \"monopólio\" deste trabalho apenas a duas lojas; Valentim de Carvalho no Centro Comercial e na CT2AJ do hiper Sol-Mar. A cidade não é assim tão grande que justifique mais lojas...

A.M.: Concertos ao vivo, para quando e onde?

M.C.: Um dos nossos patrocinadores aponta o mês de Maio para um concerto ao vivo. Por outro lado, a Recital também quer que actuemos no continente, mais ou menos nessa altura. Assim sendo, o Paulo regressará para fazermos essas datas...

Entrevista por José Andrade
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